segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Exclusivo - Tite não entende critério da CBF: 'Eu me preparei para a seleção'

Ele é considerado simplesmente o técnico mais vencedor da história de um dos times mais populares do país. Venceu tudo em seus últimos cinco anos de trabalho: Campeonato Gaúcho, Paulista, Brasileiro, Copa Sul-Americana, Libertadores, Recopa e Mundial de Clubes, sendo os quatro últimos de forma invicta. Para público, mídia e todo o meio do futebol, Adenor Bachi era o favorito absoluto para assumir a Seleção Brasileira após a Copa do Mundo de 2014. E estava preparado. Estudou, evoluiu, viajou, se reciclou... Mas a CBF não quis saber. Escolheu Dunga... E Tite ainda não entendeu.
"Me preparei. Eu me preparei. E na medida que tu acompanha os canais de comunicação, na medida que tu sai na rua e reconhecem seu trabalho nos últimos cinco anos, com Libertadores invicta, Mundial emblemático, Brasileiro, Recopa... Não é questão de ser o melhor, mas o momento do meu trabalho era muito forte", disse o treinador, em entrevista exclusiva concedida aoESPN.com.br.
"Não se trata de definir quem é melhor que quem. Mas sim o momento profissional melhor que cada um está. E por estar em um grande momento profissional é que eu não entendi", continuou.
Tite recebeu a reportagem do ESPN.com.br em sua casa no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, para uma conversa de mais de duas horas. Falou sobre tudo: do semestre inteiro de estudos e preparação para assumir a seleção brasileira ao telefone que jamais tocou com o tão sonhado convite. A escolha de Dunga, as propostas que recusou à espera do time canarinho e o exato momento em que percebeu: não ia ser ele o cara da CBF.
"Foi no momento que disseram que iam apresentar o técnico da seleção brasileira e não tinham falado comigo. Aí falei 'f..., ferrou' (risos). Já tinha me surpreendido por ser o Gilmar Rinaldi. Eu não consegui pegar qual era a ideia, qual o conceito da busca pelos profissionais. O que se colocou no papel, quais eram os requisitos... O tempo de trabalho, o que fez, o que não fez...", explicou.
Sem trabalhar desde que deixou o Corinthians, em dezembro, o único técnico a bater um campeão europeu na decisão do Mundial nos últimos oito anos não parou de se reciclar. Leu livros de Guardiola, Simeone, Cruyff, visitou o Arsenal, almoçou com Carlos Bianchi, vai se encontrar com Ancelotti e foi até sondado para assumir a seleção de Portugal, que na semana passada demitiu Paulo Bento.
"Teve sondagens, mas não teve uma busca direta", avisou Tite, que se mostrou inclinado a aceitar um eventual convite. "Quando é um projeto de seleção ele é sempre grandioso. Inicialmente sim".
À vontade para falar sobre o tema, Tite também rechaçou a ideia de que pode ter sido excluído pela CBF por causa da proximidade com o ex-presidente corintiano Andrés Sanchez, inimigo político de Marco Polo Del Nero, futuro presidente da entidade. "Não sei o que se passa na cabeça do Marco Polo, do Marin, não sei. O que tenho é que sempre serei leal às pessoas que são leais comigo e ao meu trabalho. Independente das pessoas com quem vou trabalhar, ou da cor do clube que vou trabalhar. E se as pessoas não compreendem isso, aí o problema não é meu", definiu.
"Vou te dizer o que eu penso. A gente atinge a excelência em torno de 10 mil horas de atividade profissional. E 10 mil horas de vida profissional dá uns 10 anos de atividade. Precisa ter no mínimo uns 10 anos para atingir o seu 'know how'. Estamos falando de excelência e dessa busca de crescimento. E tu busca essa evolução, esse crescimento, eu acredito muito nisso pela vivência que eu tive e porque cientificamente é comprovado. Essa busca deveria ser um dos critérios, mas compete ao nível de conhecimento de cada um", concluiu, sobre a controversa decisão da CBF de escolher Dunga para o cargo que o Brasil inteiro imaginava ser do próprio Tite.
ESPN - Quais estudos ou passagens importantes profissionalmente você pode destacar ter feito nesse meio tempo?
Tite - 
Eu estive no Arsenal. E uma coisa interessante: eles iam ter um jogo à noite contra o Bayern. Aí tinha a infraestrutura, o posicionamento, o direcionamento do trabalho, mas principalmente o aspecto informática e a comissão técnica e seus auxiliares. O que buscamos de informação? Aquilo que tem sido colocado por vocês da imprensa da intensidade dos trabalhos no dia a dia, mais do que decorrido o trajeto do atleta, que corre 5 quilômetros ou 12 quilômetros por jogo. Isso é um tema secundário. O principal é a intensidade. Estamos falando de excelência. Um pequeno detalhe que faz diferença na preparação de um atleta. Então esse acompanhamento que eles fazem desde os trabalhos técnicos aos físicos. Esse dia a dia que tu monitora e tem essa condição. Essa busca, in loco, como é a pressão do Bayern? A transição defensiva? O City, campeão inglês com o Fernandinho e Yayá Touré, como era a transição? Isso, associado a literatura e observações foi o principal. Se as pessoas entendem o quebra-cabeça você encaixa peças. Ai o cenário vai se mostrando. Periodização tática, um livro que estou buscando, o que é? Busco essa montagem. O que é periodização tática, Tite? É a montagem dos trabalhos. Estou fazendo por meio de vídeos esse tipo de trabalho, com esse objetivo, didaticamente. Você passa o complemento de um vídeo de uma situação de jogo que acontece. Como é a transição ofensiva, quem vai? Esse treinamento te dá essa condição.
ESPN - Dá para dizer então que você se preparou para treinar a seleção brasileira?
Tite - 
Me preparei. Eu me preparei. Paralelamente a ela, sabia do interesse da seleção japonesa e segurei, não abri negociação pois entendia que era uma possibilidade. E na medida que acompanha os canais de comunicação, na medida que tu sai na rua e reconhecem seu trabalho nos últimos cinco anos, os três e meio de Corinthians com cinco títulos, mais um ano e meio de Internacional com Sul-Americana invicta, Libertadores invicta, Mundial emblemático, Brasileiro, Recopa... Não é questão de ser o melhor, mas o momento do meu trabalho era muito forte, assim como era o do Muricy, do Abel, do Marcelo. Eu criei essa expectativa, mas sem ser ingênuo, sabendo que existiam uma série de possibilidades e conduções para isso. Sabia que estava investindo em mim, no meu crescimento profissional, e que isso fundamentalmente era o que eu queria. Profissionalmente e pessoalmente. Não aconteceu, abre-se outra perspectiva.