sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Ater-se naquilo que interessa

"Deve se concentrar em todos os estímulos que a partida te oferece, a fim de tomar a melhor decisão"

O jogo dura 90 minutos, porém de bola rolando a duração cai para, aproximadamente, 60 minutos. Ao longo de ambos os tempos, os atletas devem trocar continuamente o enfoque da sua atenção, do mais amplo (requisitado) ao mais reduzido (superficial). Deve se concentrar em todos os estímulos que a partida te oferece, a fim de tomar a melhor decisão. O treinador deve organizar exercícios que ajudem os atletas a desenvolver esta capacidade, periodizando ao longo do micro, meso e macro (ou qualquer outra denominação da semana, mês e temporada) demandas diferentes que obriguem a trocar com velocidade e qualidade os focos de atenção. Alguns treinadores deixam vago o objetivo tático-comportamental, a fim de salientar a busca pela resposta aos problemas do exercício, no intuito de desenvolver a percepção e leitura de jogo dos atletas. Outros, por sua vez, preferem, antes de começar o exercício, indicar aos atletas quais são os estímulos (objetivos tático-comportamental) que eles devem ter atenção em cada situação do meio utilizado. Ou seja, em cada exercício do treinamento, antes de começar, o treinador define claramente qual é o objetivo e quais são as ações (mesmo que subjetivamente) que os atletas devem realizar. Neste caso, a atenção será maior nos aspectos chaves (objetivo principal) do jogo.
Com isso, podemos registrar a frequência que essas ações ocorrem (Princípio das propensões, conforme Vítor Frade) ao longo do jogo (meio/exercício). Corroborando, com isso, o treinador pode durante o exercício concentrar suas instruções e comentários nos objetivos do jogo utilizado, ao invés, de querer abordar outros ou “todos” aspectos diferentes. Outro ponto a ser salientado, está na atenção dos atletas ser diretamente proporcional a sua motivação. Se estão motivados por um exercício atraente e estimulante, sua atenção será melhor. Ao contrário, a atenção será deficiente em um exercício monótono e entediante. Ou seja, se o trabalho sempre é o mesmo, o comportamento de sempre será o suficiente.
O que esquecemos que não há dois jogos iguais.
Mas o exemplo que trago em questão está na necessidade do atleta ser capaz de trocar o foco de atenção do amplo para o reduzido, do global para o específico, do todo para as partes, dos princípios para os sub-princípios, etc.
O que se insere neste contexto, é a importância da leitura de jogo, do local da posse, do adversário, etc.
Mesmo para manter sua concepção de jogo (alguns falam também em Modelo de Jogo) há a necessidade de ler o jogo, principalmente, o que o adversário tem para dizer ou a induzir. Não falo aqui em se moldar ao adversário (adaptar-se a ele), falo em manter seu ideal e concepção de jogo. Reorganização constante da organização macro da equipe. Percebendo o que está acontecendo em campo e tomando isso a seu favor.
O que pretendo mostrar no vídeo em questão, é a precipitação frustrada do marcador em tentar adivinhar a movimentação do adversário. Mesmo que logo após, o setor defensivo tenha tomada uma decisão coerente que evitou a progressão do adversário. Penso que talvez o simples fato de acompanhar o adversário em sua movimentação é algo tão enraizado no subconsciente do atleta, que mesmo o adversário não indo, ele foi abrindo o retorno defensivo do adversário e facilitando a manutenção de sua posse de bola. Contradizendo o objetivo do momento defensivo de não deixar o adversário progredir e/ou prejudicar a sua posse, mesmo nas ambições mais tenras.
Uma equipe de futebol precisa ter alguns (vários para outros) princípios (ideias) comportamentais (ofensivo/defensivo) que se mantém ao longo do jogo e ao longo dos jogos. Todavia, não podemos tratar isso como algo fechado. Senão, construiremos uma equipe com princípios que mais limitam do que libertam. Vencendo quando for conveniente e não vencendo quando não o for.